sexta-feira, 22 de julho de 2011

No quarto

Os livros permanecem na estante, separados por lidos e não lidos, tudo bem que alguns dos lidos não foram realmente lidos, mas são chatos demais. O guarda roupas já não parece tão organizado, mas ela fez questão de separar as roupas que gosta mais, as mais especiais, e aquelas que se usa apenas em casa... logo em baixo as gavetas, a das meias é todinha organizada por cores e tamanho, ao lado a de roupas intimas não é nadinha organizada, mas é proposital já que por baixo delas tem uma caixinha pequena com algumas lembranças de alguém especial... na parece rabiscado seu poema favorito, posteres de pessoas que ela fingia ser quando na havia ninguém olhando, um mural de fotos de momentos inesquecíveis, mas que a fazia pensar na necessidade dessas fotos, já que os momentos são inesquecíveis, se é que são... e os ouvidos, talvez os ouvidos das paredes sejam os únicos que a ouçam chorar todas as noites, ela tem treze anos e já tem que sofrer as neuroses impostas pelo mundo moderno...
no computador sempre online, sua janela para o mundo, Facebook, msn, tudo que sua vida social precisa, o blog anonimo onde fala pra todo mundo o que não se encoraja em dizer pra um alguém, na esperança que esse alguém leia... e ele lê também anonimamente.
 com olhos marejados e maturidade anormal, Sheila rabisca em seu diário antes de joga-lo dentro da gaveta de roupas intimas.
" o que faz da vida algo útil senão o que fazemos por amar alguém, tantos sacrifícios, insonias, lágrimas, tenho treze anos, não é justo ter que decidir coisas, ser bonita, social, popular, me preocupar com o que tah na moda, com as matérias da escola, eu só quero brincar de boneca, de faz de conta, de final feliz, queria que meu príncipe não fosse um ogro como os garotos que conheço, queria não me preocupar com o sangue que me sai de partes estranhas, ou em raspar pelos de lugares onde não tinham, não quero me preocupar se meu peito é grande ou pequeno, e pior, ter minha popularidade baseada no quanto meu corpo desenvolveu, e com tudo isso ainda tenho que ser tachada de infantil? de mimada? quero um cigarro (mas não sei fumar)..."
a criatividade se esvai junto as lágrimas, pensar em fumar traz uma sensação estranha de liberdade, de poder, o que traz um frio, e um calor, e um frio, e uma carência... ela se acaricia, se descobre, se onaniza... e dorme... sem sonhos ou pesadelos, e sem um boa noite na rede social... alguém realmente se importa?
(do livro ainda sem nome e sem terminar de d.h.miesterludi)

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