sábado, 28 de maio de 2016

a cura

Sim o vento soprou, frio e seco
implacável, sobrevoou a nevoa
densa que te envolve
mas desta vez não a tirou de ti

nem o calor das palavras
nem a leveza do olhar
nem vibrações de pensamento
nem o miar irritante do cio dos gatos
nem a terapia gratuita
nem as piadas infames

deixar o monstro interno sair
e passear, nem sempre
é apenas para arejar o peito
as vezes só um monstro interno
pode devorar um externo

é o principio da superação
todos focam no momento
em que apos o trágico ocorrer
ao escolher seguir em frente
o individuo vence, e com os braços
erguidos acima da cabeça, brada
aos quatro ventos, venci

mas não brada, chorei todas as noites
gritei silenciosamente de raiva cada queda
duvidei de mim mesmo 
errei
falhei
senti
e só depois venci

e obviamente, romantizaremos
como se quem vencesse não sofresse
como se, magicamente, a vitoria apagasse todas as derrotas
eis o erro, se esquecer
que antes da superação, vem a tragedia
e tragedias doem
e quanto a isso, nem ventos, nem sois, nem palavras ou olhares
talvez o tempo, ou o monstro, mas alem, nada
nada pode acelerar a cura.

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